Todos os dias depois da escola, 30 meninas se encontram na Vila Olímpica da Mangueira - um dos 22 espaços públicos com instalações esportivas gratuitas administradas pelo município do norte do Rio de Janeiro - para jogar basquete.
Elas têm entre 10 a 14 anos e vêm de diferentes bairros, escolas e contextos. Jogando juntas, elas se uniram como um time e como amigas.
Lideradas pela treinadora Ellen Rosa, as meninas passam por condicionamentos físicos, fundamentos, táticas e técnicas de basquete, e se preparam para competições. Elas trabalham duro para melhorar suas habilidades e se destacam na quadra.
Para muitas das meninas, o esporte oferece uma alternativa saudável para as transformações físicas, emocionais, mentais e sociais da adolescência. Na puberdade e adolescência, a auto-estima das meninas cai duas vezes mais do que a dos meninos, à medida em que suas liberdades e oportunidades diminuem.
O esporte as ajuda a ganhar confiança em sua força e habilidades, que elas podem aplicar para superar outros desafios. Quando a prática esportiva é combinada com espaços seguros e oportunidades de desenvolvimento de habilidades para a vida holísticas, ela capacita as meninas e aumenta sua autonomia.
Essa é a premissa de “Uma Vitória Leva à Outra”, um programa conjunto da ONU Mulheres e do Comitê Olímpico Internacional (COI), em parceria com Women Win.
Toda quarta-feira, durante uma hora, o time de basquete participa das sessões de habilidades para a vida do programa. Em um espaço seguro, divertido e confortável, elas se encontram a psicóloga Sara Santos, uma das 50 facilitadoras do programa.
Durante essa hora, as meninas aprendem a se expressar melhor, enfrentam as desigualdades de gênero e desenvolvem habilidades de liderança. Eles também ganham uma melhor compreensão de seus próprios corpos, obtêm informações sobre saúde sexual e reprodutiva, aprendem maneiras de prevenir a violência e o que fazer caso ela ocorra.
Durante as sessões, as meninas sentam-se em círculos trocando ideias e opiniões e compartilhando histórias pessoais. Sara explica que um de seus objetivos é expandir o conceito de vitória: "Eu quero que elas entendam que ser uma vencedora não é apenas ganhar um jogo, mas também ter a força que o esporte dá a elas e aplicar essa força na vida."
O espaço seguro também deu à equipe a oportunidade de resolver um conflito entre duas jogadoras. "Elas pararam de conversar uma com a outra e nem sequer passavam a bola entre elas durante o treino. A equipe estava rachada”, lembra Sara. Durante uma sessão sobre boa comunicação e resolução de conflitos, a equipe conversou sobre a situação. "As duas meninas optaram por superar suas diferenças, já que a equipe e o esporte eram mais importantes para elas do que sua discordância".
A treinadora Ellen Rosa está orgulhosa das meninas e feliz por ver sua amizade crescendo mais forte. “Elas estão confiando umas nas outras mais do que nunca e isso está melhorando o desempenho delas na quadra. Estamos nos aproximando mais desde o início do programa. As meninas sentem-se mais confortáveis para me procurar quando precisam de conselhos ou enfrentam problemas pessoais, e aprendi como conversar com elas sobre algumas destas questões”.
Usando o esporte como uma ferramenta para reduzir as desigualdades de gênero e desenvolver a auto-estima e habilidades para a vida entre meninas adolescentes, "Uma Vitória Leva à Outra" tem como meta atingir 2.500 meninas e agora está presente em quase 20 Vilas Olímpicas no Rio de Janeiro.
Fotos: ONU Mulheres/Gustavo Stephan