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Pergunte à especialista: O que é Impacto Coletivo?
Thays Prado, publicado em 14/05/2019
Marielle Schweickart, Gerente de Impacto da Women Win, explica o conceito em 5 perguntas

A ONG Women Win é parceira da ONU Mulheres e do Comitê Olímpico Internacional no desenvolvimento do programa “Uma Vitória Leva à Outra” no Brasil desde 2015. Além de contribuir com a metodologia e a primeira versão do currículo do programa, a Women Win é também especialista no desenvolvimento de estratégias de impacto coletivo para endereçar problemas complexos no universo esportivo. Atualmente, lidera, junto com a ONU Mulheres e a ONG Empodera, a construção de uma coalização entre organizações de diversos setores para garantir o acesso e a permanência de meninas adolescentes em programas esportivos educacionais e de alto rendimento no Brasil. A Gerente de Impacto da organização, Marielle Schweickart, explica em 5 perguntas o conceito de impacto coletivo.
 

O que é impacto? E o que é impacto coletivo?
Impacto é provocar uma mudança. E impacto coletivo é uma estratégia para combinar forças de diferentes tipos de organizações – como ONGs, agências internacionais, empresas, governos, fundações etc. – para endereçar um desafio grande e complexo, que não possa ser totalmente resolvido por uma única organização. É alinhar talentos e fortalezas de diversos setores que estejam procurando causar uma mudança específica relacionada a esse desafio, de forma alinhada. 

Ou seja, os princípios do impacto coletivo são: uma agenda comum entre todos os stakeholders envolvidos na estratégia; um conjunto de indicadores compartilhados entre esses stakeholders para medir o impacto que estão provocando em determinado grupo ou contexto e uma série de atividades e ações alinhadas entre si e que somam esforços rumo a um objetivo comum. Assim, todos trabalham juntos e aprendem uns com os outros.
 

Por que é vantajoso para o terceiro setor trabalhar sob uma estratégia de impacto coletivo?
No setor social, é muito comum encontrar impactos que estão isolados em uma única organização. Apesar de diversas organizações do terceiro setor trabalharem com a mesma causa e terem o mesmo objetivo, elas não estão se comunicando umas com as outras no sentido de compartilhar experiências e aprendizados e gerar uma mudança realmente significativa. Quando as organizações trabalham de forma isolada, elas até podem encontrar soluções que funcionem para a sua realidade local, mas, muitas vezes, é difícil que elas contemplem as necessidades de uma realidade diferente ou que possam ser escaladas. Por isso, é muito comum ver organizações sem fins lucrativos competindo umas com as outras por recursos, tentando provar que elas serão individualmente responsáveis pela produção do maior impacto, ao invés de trabalharem juntas no desafio comum que estão tentando resolver. 

O que o impacto coletivo faz é trazer todas as pessoas e organizações que possam ter algo a contribuir na geração de determinada mudança, somando esforços sem duplicá-los e promovendo o compartilhamento de aprendizados entre os stakeholders, o que resulta em uma compreensão muito mais profunda do problema que se deseja atacar, na geração de mais dados e informações sobre o que realmente funciona e, portanto, na promoção de impactos muito maiores e mais eficazes.


Como funciona a lógica de financiamento quando organizações trabalham em uma estratégia de impacto coletivo?
A lógica é diferente. As organizações não vão para a mesa de negociação querendo tirar algo dali para si mesmas e os financiadores fazem parte da conversa para a definição da estratégia comum. Eles reconhecem que se trata de um problema amplo e complexo e que vai requerer diversos atores com esforços alinhados para a geração de mudanças significativas.

Quer dizer, numa estratégia de impacto coletivo, os financiadores e o próprio governo olham para o grupo de organizações alinhadas, com uma estratégia clara e comum, e querem apoiar a realização daquela estratégia na base. Assim, o financiamento entra na conversa de forma natural, pois todos os stakeholders que possuam recursos estarão engajados em investi-los da melhor forma para o alcance daquela estratégia comum, em vez de estarem focados em investir em uma organização específica, de forma individual.

É claro que atuar em uma estratégia de impacto coletivo demanda trabalho de todas as partes, mas a verdade é que as organizações já estão trabalhando naquele desafio específico, de todo modo. A ideia de alinhar estratégias e somar forças para endereçar uma agenda comum e fazer pequenos ajustes ao longo do caminho para incorporar as lições aprendidas com as experiências de cada organização não precisa representar, necessariamente, um grande peso ou esforço para cada organização. E o próprio trabalho desenvolvido de forma conjunta criará oportunidades de financiamento.
 

Como são definidos indicadores que servem para diferentes setores?
Certamente, esse é um desafio. Mas, definida uma agenda comum, há certos indicadores que podem, sim, ser medidos pelos diferentes setores. Quatro ou cinco indicadores, ao menos, e eles podem ser mais amplos, como o número de participantes, a proporção entre homens e mulheres, o aumento de engajamento de pessoas por raça ou etnia, ou a diminuição de algum fator que esteja presente nos diferentes setores. Mas também é importante que outros indicadores, mais específicos, sejam definidos entre as organizações do mesmo setor, de modo que elas possam reportar sobre as mesmas coisas e, assim, comparar resultados e aprender com as semelhanças e diferenças.


O tema do acesso e da permanência das meninas no esporte pode ser melhor trabalhado a partir de uma estratégia de impacto coletivo?
As organizações que convidamos para a formação inicial dessa coalização pela igualdade de gênero no esporte e através do esporte estão fazendo trabalhos maravilhosos individualmente. Nós temos organizações do terceiro setor, fundos, clubes esportivos, federações, técnicas, membros do Comitê Olímpico do Brasil etc. Elas representam partes importantes do desafio de empoderar meninas no e através do esporte. Mas nenhuma delas será capaz de alcançar esse resultado de forma isolada. Desse modo, essa é uma oportunidade maravilhosa de nos reunirmos, compreendermos as diferentes visões e perspectivas sobre esse desafio comum e sobre as mudanças que queremos promover e, assim, alinhar esforços e trabalhar juntas para alcançá-las.

Na Women Win, nós trabalhamos muito o fato de que os desafios e as barreiras que as meninas enfrentam no esporte são muito semelhantes aos enfrentados por elas na sociedade, de modo geral. O esporte é uma ferramenta incrível para que meninas e mulheres desenvolvam habilidades que as ajudem a superar essas barreiras e desafios, como: desenvolver autoestima, se tornar líder, encontrar a sua própria voz, ter uma rede de contatos e apoio, fazer amigas que tenham experiências diferentes das suas etc. Então, garantir o acesso e a permanência das meninas no esporte é um fator muito importante para o empoderamento e a promoção da igualdade de gênero. E isso é particularmente promissor no Brasil, que é um país muito apaixonado por esportes.
 
Então, se, juntas, essas organizações trabalharem para que as meninas e mulheres tenham as mesmas oportunidades de acessar e permanecer em programas esportivos educacionais e de alto rendimento, sejam referência como atletas, tenham mais visibilidade na mídia, ganhem o mesmo que os homens em termos de prêmios, salários e patrocínios, isso tem o potencial de criar mudanças significativas em muitas outras áreas. Estamos muito entusiasmadas com o impacto que essa coalizão pode gerar daqui em diante.


Foto: ONU Mulheres/Alex Ferro

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